"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".Rubem Alves

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

31 DE OUTUBRO DIA DO SACI-PERERÊ

Por Rosalina Rocha Araújo Moraes

Quem é o Saci?

Você sabia que existe um dia, no Brasil, dedicado à comemoração do Saci? E o Saci você sabe quem é? Onde ele surgiu? Já ouviu alguma vez a história desse personagem fantástico?
Saci Pererê
Saci Pererê
Saci é um personagem brasileiro mitológico1  que habita o imaginário popular brasileiro principalmente no interior do país onde ainda se mantém o hábito dos mais velhos, de contarem histórias aos mais jovens nas tranqüilas e claras noites de lua.
Representado atualmente pela figura de um menino negro de uma só perna que possui um gorro vermelho na cabeça e traz sempre um cachimbo na boca. De Norte a Sul do Brasil, além do nome, são várias também as definições e representações atuais que se tem dele. No nordeste, de uma forma geral ele segue a representação antes descrita que é a mais conhecida atualmente e a mais popular.
No Sul e Sudeste há algumas variações. No Rio Grande do Sul, por exemplo, ele é retratado como um menino negro perneta de gorro vermelho que se diverte atormentando a vida dos caminhoneiros e aventureiros que gostam de viajar. Deixando-os areados ele os faz perder o destino. Ranços culturais europeus podem ter influenciado o Saci em Minas Gerais onde ganhou acessórios como: “um bastão, laço ou cinto, que usa como a “vara de condão” das fadas européias” (site: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/saci.html). Já em São Paulo, apesar de manter essas mesmas características básicas ele possui um boné em lugar do gorro.

De onde vem o (s) Saci (s)?

Segundo a crença popular os Sacis vivem setenta e sete anos e se originam do bambu. Após sete anos de “gestação” dentro do gomo do bambu ele sai para uma longa vida de travessuras e quando morre se metamorfoseia em cogumelosvenenosos ou em “orelhas de pau”. Quem é do interior ou já foi ao campo a passeio deve ter visto alguma vez, uma espécie de cogumelo que se forma nos troncos das árvores e que se parece com uma orelha. É isso que os matutos chamam de “orelha de pau”.

As principais características

Apesar das inúmeras definições dessa famosa entidade folclórica algumas características são mais presentes e recorrentes nas descrições do Saci. Sabe-se que em geral:
- é um ser que vive nas matas;
- é extremamente misterioso;
- é negro, pequeno e possui apenas uma perna;
- usa um capuz vermelho e um cachimbo;
- não possui pêlos no corpo;
- não possui órgãos para urinar ou defecar;
- só tem três dedos em cada mão;
- possui as mãos perfuradas;
- adora assoviar e ficar invisível;
- vive com os joelhos machucados, resultado das travessuras;
- tem o domínio dos insetos que atormentam o homem: mosquitos, pernilongos, pulgas, etc.;
- fuma em um pito e solta fumaça pelos olhos;
- adora fazer travessuras;
- pode, em momentos de bom humor ajudar a encontrar coisas perdidas;
- gira em torno de si feito um pião e provoca redemoinhos;
- pode ser malvado e perigoso;
- adora encantar as criancinhas faze-las perder-se na mata;

Saci: malvado ou apenas peralta?

Entre todas essas características uma é unânime: sua personalidade travessa. Algumas pessoas acreditam que ele é mau outros dizem que ele é apenas um garoto traquino que adora fazer pequenas travessuras, mas sem o intuito de fazer o mal, apenas de se divertir. Seja como for diz a lenda que ele é muito peralta. Adora assustar os animais, prendê-los, criar situações embaraçosas para as pessoas, esconder objetos, derrubar e quebrar as coisas, entre outras danações.
Diz a lenda que ele não é apenas um brincalhão ou um espírito mau. Tratar-se-ia de um exímio conhecedor das propriedades medicinais das ervas e raízes da floresta. Se alguém precisa entrar na mata e pegar algo, portanto, tem que pedir autorização do Saci, pois entrando sem permissão cairá inevitavelmente em suas armadilhas.

Como escapar do Saci?

Algumas pessoas afirmam que o único meio de driblar o negrinho é espalhando cordas ou barbantes amarrados pelo caminho. Assim ele se ocuparia em desatar os nós, dando tempo da pessoa fugir de sua perseguição. O Saci também tem medo de córregos e riachos, por isso, atravessar um pode ser uma alternativa, pois o Saci não consegue fazer a travessia.
Mas o único meio de controlar um Saci, segundo o mito, é tirando-lhe o gorro e prendendo-o em uma garrafa. Para isso é necessário jogar uma peneira ou um rosário bento em um redemoinho. Só dessa forma se pega um Saci. Uma vez preso e sem o gorro que lhe dá poderes ele fará tudo que for mandado.
As origens
Diante de todas essas informações fica a pergunta: onde teria nascido a lenda do Saci? Os estudos sobre o folclore brasileiro apontam a origem indígena quando falam da lenda do Saci. Esse mito teria surgido na região Sul do Brasil durante o período colonial, por vota do final do século XVIII, por ocasião das Missões.
A alcunha pela qual o Saci é mais popularmente conhecido é Saci-Pererê, mas seu nome originalmente era Yaci-Yaterê de origem Tupi Guarani. De acordo com a região do Brasil ele pode, porém, ser conhecido por uma variedade de apelidos.
O dicionário Aurélio traz as seguintes variações de nomes do Saci: “Saci-cererê, Saci-pererê, Matimpererê, Martim-pererê”(AURÉLIO, 2005). Além dessas denominações Martos e Aguiar (2001, p. 75) apontam ainda: “saci-saçura, saci-sarerê, saci-siriri, saci-tapererê ou saci-trique”. Por ser considerado por alguns um perito na arte da transformação em aves, o negrinho travesso recebe ainda nomes de passarinhos nos quais se transforma, como por exemplo: matitaperê, matintapereira, sem-fim, entre outros (ibidem, p. 75). Na região às margens do Rio São Francisco ele é conhecido pela alcunha de Romão ou Romãozinho.

A metamorfose do Saci

Quando surgiu, o saci foi representado por um curumim2 endiabrado, de uma perna só e de rabo. Suas traquinagens tinham como objetivo atrapalhar a entrada dos intrusos na mata, ou seja, no território indígena. Era provavelmente uma forma encontrada pelos nativos de resguardar seu território da invasão dos indesejados homens brancos.
A figura original do Saci – garoto índio – sofreu alterações por ocasião da inserção, na cultura brasileira, de elementos africanos e europeus, trazidos para cá pelos negros escravos importados da África e pelos colonizadores.
Ao chegarem a terras brasileiras trazendo seus próprios mitos e difundindo-os entre os que aqui habitavam, africanos e europeus provocaram uma mescla de características das três culturas, assim, a lenda do saci ganhou elementos novos.
O Saci se transformou em um garoto negro de características físicas africanas. Alguns acreditam que a ausência da perna se deveu a uma perda sofrida em uma disputa de capoeira, luta praticada pelos negros africanos. Também ganhou um cachimbo, típico dos costumes africanos. Da cultura européia ganhou um elegante barrete vermelho que reza a lenda, é a fonte de seus poderes mágicos.
Conclusão
Apesar de todo o encanto dessa lenda e desse personagem. Mesmo com a resistência em alguns lugares da cultura de contar histórias, o que se percebe hoje é a desvalorização da cultura oral e o enfraquecimento desses costumes a cada dia.
Alguns fatores, porém têm contribuído para que o Saci não se apague da memória de nosso povo e facilitado o acesso de mais pessoas a essa lenda que integra o patrimônio literário e cultural brasileiro.
Graças à criatividade de escritores brasileiros como: Maurício de Souza, Monteiro Lobato e Ziraldo, esse personagem viajou do campo para as grandes metrópoles e até mesmo para o exterior através de suas obras.
Monteiro Lobato, escritor conhecido do público infantil, foi o primeiro a lembrar o Saci. Nas décadas de 1970 e 1980 o personagem apareceu nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo e o personagem ficou conhecido em todo o País. Este é, talvez, o escritor que mais difundiu esse personagem, primeiro através da obra escrita e depois através da obra televisionada, que hoje tem alcance internacional, levando nosso personagem ao conhecimento do mundo.
Maurício de Souza, criador da turma da Mônica, também incluiu o Saci nas suas histórias em quadrinho, principalmente nas do personagem Chico Bento, que é um matuto da roça. Outro que imortalizou o Saci em sua obra foi Ziraldo com a criação da turma do Pererê, que também alcançou as telas da televisão.
Além do impulso dado pela literatura, outro fato importante foi a criação, em 2005, pelo governo brasileiro, do dia nacional do Saci, que deve ser comemorado dia 31 de outubro. Essa idéia surgiu com o intuito de minimizar a importância que se dá à comemoração do dia das bruxas3, reduzindo assim, a influência de culturas importadas e favorecendo a valorização da cultura e do folclore nacionais.
1 O termo mitológico é utilizado aqui para designar um personagem que faz parte dos mitos da cultura brasileira. Segundo o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 mito é uma “narrativa na qual
aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida
humana, etc. Representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação popular, pela
tradição, etc”.

terça-feira, 30 de outubro de 2012


Aproveitando o dia nacional do livro, segue lista de sites que disponibilizam livros grátis para baixar. Link: http://canaldoensino.com.br/blog/40-sites-para-baixar-livros-de-graca

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SIMPÓSIO CONTESTADO




        Carta do Irani


    Nós, professores, estudantes e pesquisadores da área de História e demais Ciências Humanas, participando de três sessões (na UFSC, entre 29 de maio e 1 de junho; na UFPEL, entre 29 e 31 de agosto e na UFFS, entre 18 e 22 de outubro) do Simpósio sobre o Centenário do Movimento do Contestado, reunidos ao longo deste ano de 2012, preocupados com o estado e situação de acervos documentais, locais de memória, patrimônio histórico e da população remanescente do conflito do Contestado, alertamos a sociedade civil e conclamamos as autoridades públicas (órgãos de Patrimônio e Memória, Poder Executivo, Ministério Público e Poder Judiciário, das esferas municipais, Estaduais e Federal) para:
a). A premência da implementação de políticas públicas de saúde, educação e terras para a população remanescente do conflito, como forma de atendimento a cidadãos que, por gerações, estiveram marginalizados dos benefícios da sociedade brasileira. Considerando que os núcleos de remanescentes do conflito - e de população tradicional do planalto meridional em geral - apresentam atualmente os mais baixos índices de desenvolvimento humano do sul do Brasil (IDH, conforme avaliação oficial);
b). A urgência da defesa dos locais de memória e convivência das populações tradicionais remanescentes do conflito em Santa Catarina, e em maior âmbito, dos locais frequentados pelos devotos da tradição de São João Maria em todo o sul do Brasil. Atualmente muitas fontes de “águas santas”, grutas, ermidas, cruzeiros, antigos redutos, guardas e cemitérios precisam de defesa institucional e recuperação e conservação, como locais de visitação, culto, convivência e pesquisa científica;
c). A necessidade da localização, preservação, guarda e colocação à disposição de pesquisa de acervos documentais, de origem pública ou privada, compreendendo todo um repertório (de documentos, imagens, prosa, poesia, orações, pinturas, esculturas, objetos museológicos, depoimentos orais e peças audiovisuais) que tenham relação com a Guerra do Contestado e, num sentido mais amplo, sobre a vida, a sociedade e a cultura do planalto meridional brasileiro;
Acreditamos que é nossa obrigação, como professores, pesquisadores e estudantes, apontar as questões acima para que nos próximos 100 anos não tenhamos que lamentar a continuidade de situações de subalterização e marginalização de nossa pobre população que tanto trabalhou e trabalha para a edificação da nação.

Irani, 22 de outubro de 2012.
      Assinam: Os participantes do Simpósio do Centenário do Movimento do Contestado: História, Memória, Sociedade e Cultura no Brasil Meridional, 1912 – 2012. Carta aprovada por aclamação na mesa final da sessão de Chapecó – UFFS.

       http://simpsiocentenriocontestado1912-2012.blogspot.com.br/

ELEIÇOES NOS ESTADOS UNIDOS


Os eleitores dos Estados Unidos da América escolhem seu presidente a cada quatro anos. De modo geral, a votação é similar à que ocorre no Brasil: no dia das eleições, os eleitores vão às urnas e votam no candidato de sua escolha, de modo secreto.
Há, entretanto, duas diferenças fundamentais. A primeira está na modalidade do voto, que, nos Estados Unidos, é facultativo. Ou seja: no dia das eleições, o cidadão pode ir ou não ir às urnas, sem com isso ter qualquer prejuízo ou precisar apresentar qualquer justificativa. Isso também implica um tipo diferente de campanha, na qual os candidatos precisam convencer os eleitores pouco mobilizados a participar das eleições.
A segunda diferença reside no caráter indireto das eleições americanas. Ao contrário do Brasil - onde a totalidade dos votos dos cidadãos é somada e, disso, concluído o vencedor do pleito - nos Estados Unidos o voto do eleitor não é creditado diretamente ao seu candidato. Os votos dos eleitores de cada Estado (ainda que dados para candidatos específicos) servem para eleger delegados no Colégio Eleitoral (Electoral College). São estes que representarão os eleitores de sua unidade federativa na escolha final do futuro presidente.
Desde 1954, o Colégio Eleitoral é composto de 538 assentos, dos quais pelo menos 270 votos (maioria mínima) são necessários para se decretar um vencedor.
Ocorre, no entanto, que, na maioria dos casos, a determinação final dos votos de cada Estado é absoluta, e não proporcional. Isto é: mesmo que o candidato X derrote o candidato Y no Estado W por 55% contra 45% dos votos válidos, X obterá todos os representantes de W, enquanto Y não levará nenhum ao Colégio Eleitoral. Esse sistema é conhecido como "The Winner Takes It All" ("O Vencedor Leva Tudo"). (Os únicos Estados em que se realiza uma contagem diferente são Maine e Nebraska.)
Soma-se a isso que cada Estado tem uma quantidade própria de representantes determinada proporcionalmente pelo tamanho de sua população. O sistema, assim, permite que, no final das eleições, Y obtenha mais votos totais que X e, mesmo assim, acabe derrotado no Colégio Eleitoral por ter perdido a disputa nos Estados mais populosos.
Isso ocorreu pela última vez em 2000, quando o democrata Al Gore enfrentou o republicano George W. Bush. Bush derrotou Gore no Colégio Eleitoral por 271 votos a 266, embora tenha perdido na soma geral (47,87% contra 48,38%, ou 500 mil votos a mais para o democrata). Foi a quarta vez que o fenômeno ocorreu em toda a história da democracia americana.
Estas características, aliadas ao alto grau de autonomia das leis eleitorais de cada Estado, fazem também com que o tempo em que o resultado das eleições é anunciado varie de ano a ano. Em 2000, devido às polêmicas das contagens na Flórida, o processo de contagem dos votos demorou mais de um mês. Já em 2008, devido à boa vantagem de Barack Obama em muitos Estados, o democrata já era o presidente eleito no final do dia da votação.
Para melhor entender as eleições americanas, é bom ainda também ter em mente que, além de tamanhos e pesos eleitorais distintos, os Estados americanos possuem perfis políticos diferentes, o que por vezes acaba por lhes conferir funções específicas nas eleições.
Os Estados americanos tendem a ter uma identidade política bem definida com um dos dois grandes partidos; isso ocorre, por exemplo, no Texas, que historicamente tem um voto republicano, independentemente dos candidatos em disputa. Contudo, há alguns Estados que podem tanto pender para um lado como para outro, como a Flórida. Estes Estados - "Swing States", como são chamados - tendem a atrair maior esforço e dinheiro de campanha e, em eleições bastante disputadas, geralmente são determinantes no resultado final.
As eleições ocorrem sempre na terça-feira seguinte à primeira segunda-feira do mês de novembro. Em 2012, será o dia 6 de novembro. O resultado será oficialmente anunciado no dia 17 de dezembro, e a posse do presidente eleito está marcada para 20 de janeiro.
Vale lembrar que, no plano oficial, há geralmente dezenas de nomes disputando as eleições; são diversos candidatos independentes, que correm por fora do sistema binário dos partidos Republicano e Democrata. Os independentes, no entanto, não têm chances reais de eleição e, por vezes, nem mesmo figuram nas cédulas eleitorais de todos os Estados.
Além da escolha do presidente e seu vice (cujos votos são indissociáveis), os eleitores também votarão, em 2012, para renovar um terço do Senado e para eleger os membros do 113º Congresso (Casa dos Representantes). Onze governos e diversos deputados estaduais também serão escolhidos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

EDUCAÇÃO INTEGRAL - ANÍSIO TEIXEIRA


Anísio Teixeira - e a escola pública brasileira (Projeto de educação integral)


"Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública."

Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité, sertão da Bahia, em 12 de julho de 1900. Após sólida formação adquirida em colégios jesuítas de Caetité e Salvador, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro em 1922 e obteve o título de Master of Arts pelo Teachers College da Columbia University, em Nova York, em 1929. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em março de 1971.

Considerado um dos maiores educadores brasileiros, Anísio Teixeira deixou uma obra pública excepcional que, ainda hoje, está à frente do nosso tempo. Sua formação educacional foi fortemente influenciada pelo pragmatismo do filósofo John Dewey, de quem foi aluno no Teachers College e cujas idéias divulgou no Brasil. Mas foi, sobretudo, nos embates entre a gestão cotidiana da educação e sua visão de futuro, em meio a aliados e adversários, que aprendeu a organizar homens e instituições.

"Somente a educação e a cultura poderão salvar o homem moderno e que a batalha educacional será a grande batalha do dia de amanhã."


Iniciou-se na vida pública em 1924, no governo Góes Calmon (1924-1928), como Inspetor Geral do Ensino da Bahia, passando logo depois a Diretor da Instrução Pública desse estado. Mais tarde, já no Rio de Janeiro, assumiu a Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal, no governo do prefeito Pedro Ernesto (1931-1935). Nessa gestão conduziu importante reforma educacional que o projetou nacionalmente, foi signatário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), teve participação ativa na Associação Brasileira de Educação (ABE), criou a Universidade do Distrito Federal (UDF). Demitiu-se em 1935, diante de pressões políticas que inviabilizaram sua permanência no cargo, refugiando-se no interior de seu estado natal. Entre 1937 e 1945, afastado da vida pública, permaneceu na Bahia, dedicando-se a atividades de mineração, comércio e tradução de livros.

Em 1946, a convite de Julien Huxley, assumiu o cargo de Conselheiro de Ensino Superior da UNESCO, retomando sua atividades na área educacional. De volta ao Brasil em 1947, aceitou o convite de Otávio Mangabeira, recém-eleito governador da Bahia, para ocupar a Secretaria de Educação e Saúde desse estado, posto no qual permaneceu até o final desse governo (1947-1951). Nessa administração fez construir em Salvador o Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, mais conhecido como Escola Parque, uma experiência inovadora de educação integral, onde atividades artísticas, socializantes e de preparação para o trabalho e a cidadania, e mais alimentação, higiene e atendimento médico-odontológico, complementavam as práticas educativas tradicionais. Esta obra, pioneira no Brasil, projetou-o internacionalmente.

"Numa democracia, nenhuma obra supera a de educação. Haverá, talvez, outras aparentemente mais urgentes ou imediatas, mas estas mesmas pressupõem, se estivermos numa democracia, a educação. Todas as demais funções do estado democrático pressupõem a educação. Somente esta não é conseqüência da democracia, mas a sua base, o seu fundamento, a condição mesmo para a sua existência."

Na década de 50 teve atuação destacada na esfera federal, no Ministério da Educação. Em 1951 assumiu a Secretaria Geral da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que seria por ele transformada em órgão, a CAPES. Em 1952 assumiu também o cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Criou, então, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e uma rede de 5 Centros Regionais, com o objetivo de elaborar estudos antropológicos e sociológicos sobre a realidade brasileira. Durante sua gestão na CAPES e no INEP, proferiu inúmeras conferências no Brasil e no exterior, incentivou a criação de bibliotecas no país, foi eleito por duas vezes presidente da SBPC, participou ativamente da discussão da LDB (1961). Nesses anos de árdua luta pela escola pública, editou o seu livro mais polêmico: Educação não é privilégio (1957). E foi ainda nessa época que se tornou professor universitário, assumindo a cadeira de Administração Escolar na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.
“[...] Meu ponto de vista, pois, é simples: se alguém deseja ser professor é que resolveu devotar sua vida a estudar e como estudante é que vai ensinar. Como sua luta por aprender fez-se a sua própria vida, não há problema relativo a como aprender de que não tenha experiência [...]”
- Em trecho de uma carta escrita por Anísio Teixeira em 13 de dezembro de 1968 ao Professor Edivaldo Boaventura.

A Estatueta que pertenceu a Anísio Teixeira - encontra-se em exposição
no Centro de Memória da Casa Anísio Teixeira - Desenho de Luciene Aguiar
No início dos anos 60, juntamente com Darcy Ribeiro, foi um dos mentores da Universidade de Brasília (1961), tornando-se seu 2º reitor em 1963. O golpe militar de 1964 o afasta, mais uma vez, das suas funções públicas. A convite de universidades americanas, viaja para os Estados Unidos para lecionar como “visiting scholar”. De volta ao Brasil, completou o seu mandato no Conselho Federal de Educação (1962-1968), tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas e retomou suas atividades de tradutor e escritor na Editora Nacional, organizando coleções e reeditando alguns de seus livros.

A história da educação brasileira, no século XX, está marcada por suas idéias e ações em favor da democratização das oportunidades de acesso à educação pública, universal, gratuita, laica e de qualidade. Sua obra representa um patrimônio importante da cultura nacional. O que produziu e criou permanece vivo como mensagem inspiradora dos intelectuais e educadores brasileiros na virada do milênio.

"… Anísio Teixeira é o pensador mais discutido, mais apoiado e mais combatido do Brasil. Ninguém como ele provoca a admiração de tantos. Ninguém é também tão negado e tem tantas vezes o seu pensamento deformado (…) Suas teses educacionais se identificam tanto com os interesses nacionais e com a luta pela democratização de nossa sociedade que dificilmente se admitiria pudessem provocar tamanha reação num país republicano."
- Darcy Ribeiro.

INFLUÊNCIA DA ESCOLA AMERICANA
Anísio Teixeira e o filósofo-pedagogo John Dewey.
Anísio Teixeira trouxe para o Brasil as idéias do pedagogo e filósofo americano John Dewey (1859 - 1952) e as introduziu em nossa educação a partir da década de 1930. Entre essas idéias, as duas principais eram a defesa da escola pública e gratuita e a necessidade da implantação de experiências práticas nas salas de aula.
A relação entre ensino e democracia também estava sendo discutida nos Estados Unidos. Dewey era um ferrenho defensor do direito de todas as classes sociais à educação.

Além disso, ele definia a aprendizagem como um processo ativo. Dewey criou a expressão "escola ativa" para denominar o ensino baseado em experiências práticas. "Todo conhecimento autêntico vem da experiências", dizia. Essa foi uma das bases do movimento da Escola Nova.

"Anísio Teixeira foi um profeta do saber, da cultura e da transformação social, sobretudo da transformação social. Foi um dos homens mais cultos deste país, mas ao mesmo tempo o menos exibicionista dos homens cultos deste país. Toda a produção intelectual de Anísio Teixeira é motivada por seu desejo de transformação social. O que ele foi, acima de tudo, foi um educador voltado para a prática da educação e da administração. E por causa dessa prática, que demandava conhecimento teórico, é que fez os seus livros. Ele não foi um teórico que se fez prático. Ele foi um homem que essa dialética do fazer e do conhecer acompanhou permanentemente. Lembrem-se de que, num momento de ostracismo, a prática que ele desenvolveu foi a de um minerador, de um exportador, de um comerciante e de um tradutor de obras que ele achava relevantes."
- Antônio Houaiss.
A ESCOLA PARQUE
Em 1932, Anísio Teixeira foi um dos signatários de um dos documentos mais importantes da história da educação no Brasil, o "Manifesto dos Pioneiros". O Manifesto defendia uma educação pública, gratuita, mista, laica e obrigatória, possibilitando a concretização do direito biológico à educação.

Anísio Teixeira apostava na educação para benefício e desenvolvimento de todos os indivíduos, voltada para a democracia e a liberdade de oportunidades. Criou o sistema educacional "ESCOLA PARQUE" onde as escolas, além do currículo básico, propõem o acesso a aprendizagens sobre trabalho e à cultura ampla da humanidade, desenvolvendo o senso de responsabilidade, de ação prática e de criatividade.

A primeira unidade da "ESCOLA PARQUE" de Anísio Teixeira foi instalada na Bahia, em Salvador, onde funciona até hoje com o nome de Centro Educacional Carneiro Ribeiro, reconhecida pela UNESCO como modelo educacional. Em 1957, Anísio Teixeira elaborou o plano de sistema escolar de Brasília, onde instalou várias outras unidades da ESCOLA PARQUE, conhecidas como ESCOLA CLASSE.

Em 1970, fundada a ESCOLA PARQUE, no Rio de Janeiro, reiterando os ideais de educar para a vida e para a democracia. Tem por objetivo formar pessoas que se importem com o mundo onde vivem e que saibam viver no mundo e no tempo a que pertencem.

ESCOLA PARQUE não é apenas um nome, mas um conceito complexo e profundo, uma filosofia de Educação. Neste início de século, certamente Anísio acompanharia com entusiasmo as modificações necessárias para a formação das novas gerações e conclamaria todos ao estudo, à discussão e às novas práticas, como sempre fez seu espírito inquieto.

"Não será espontaneamente que haveremos de sair da estrada do medo e da catástrofe para a da segurança e do razoável"... "os professores e a escola - cada vez mais importantes na civilização voluntária e inteligente que estamos criando, hão de ser os pioneiros nessa fronteira de progresso moral, que se terá de abrir de agora e por diante, na conquista do verdadeiro poder não só material mas humano sobre a vida neste planeta."

COMPLEXO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO - ESCOLA PARQUE


Complexo Educacional Carneiro Ribeiro (Escola Parque) projeto arquitetônico de Diógenes Rebouças, localizado no bairro da Caixa D'Água, criada pelo educador Anísio Teixeira, possui um grande tesouro artístico, que reflete os ecos do modernismo na Bahia, reunindo murais dos principais artistas da cena baiana da época.
Os cinco murais do pavilhão de trabalho, assinados por Mário Cravo, Carybé, Jenner Augusto, Maria Célia Mendonça e Carlos Manganocom temas como 'o homem e a máquina', 'a energia' ou 'a evolução humana', encomendados pelo próprio Anísio Teixeira. Os dois principais painéis, de 20 metros de largura por 12 de altura, foram feitos por Cravo e Carybé, que utilizaram a técnica de têmpera a ovo sobre compensado, os afrescos de Jenner Augusto e Carlos Mangano e uma pintura a óleo sobre madeira de Maria Célia Mendonça.


MURAIS E PAINÉIS DA ESCOLA PARQUE

Mario Cravo – “O homem e a máquina” 
(técnica têmpera sobre compensado)
Carybé - “A energia” (técnica têmpera sobre compensado).


Maria Célia Mendonça – “A transformação da matéria” 
(óleo sobre madeira compensada).


Carlos Mangano – “A evolução humana” (técnica afresco).
"A educação para este período de nossa civilização ainda está para ser concebida e planejada e, depois disto, para executá-la, será preciso verdadeiramente um novo mestre, dotado de grau de cultura e de treino que apenas começamos a imaginar."
Núcleo de Artes do Centro Educacional Carneiro Ribeiro.
Foto: S.E Cultural Material Escolar

No centro Anísio Teixeira e Monteiro Lobato.
"…Eureca! Eureca! Você é o líder, Anísio! Você há de moldar o plano educacional brasileiro. Só você tem a inteligência bastante aguda para ver dentro do cipoal de coisas engolidas e não digeridas pelos nossos pedagogos reformadores… Eles não conhecem, senão de nomes, aqueles píncaros (Dewey & Co.) por cima dos quais você andou e donde pode descortinar a verdade moderna. Só você, que aperfeiçoou a visão e teve o supremo deslumbramento, pode neste País falar de educação!" 
- Monteiro Lobato.



“A vida não me deixou ser senão um homem de ação, ... de administração, escrevendo ao comando da circunstância, do dever imediato do meu cargo...”
- Trecho de carta a Alceu de Amoroso Lima, Rio de Janeiro, 17/5/1964.

Anísio Teixeira, por Jefferson Nepomuceno.
“As coisas melhores que pude construir até hoje foram as minhas amizades. O nosso amor há de ser qualquer coisa de maior e de melhor. Ajude-me pois a construí-lo. Com o seu auxílio, ele há de ser tão alto, tão sólido, tão humano e tão bom que irá para além do nosso sonho...”
- Trecho de carta a Emília Telles Ferreira. Bahia, 31 julho de 1930.

“Caiu-me nas mãos um precioso livrinho francês, L’Idée réparatrice. Nenhum outro livro me soube fazer conhecer, tão a fundo, a essência mesma da doutrina de Jesus que este; (...) parece que Deus me esclarecia, para poder transpor com convicção a única barreira que encontrava para a Companhia de Jesus: o afastamento da família. Este ano não tive a consolação de obter o vosso consentimento...”
- Trecho de carta aos pais, Caetité, 25 de março de 1920, sexta-feira santa.

“Democracia sem educação e educação sem liberdade são antinomias em teoria, que desfecham, na prática, em fracassos inevitáveis.”
- Citação do professor Anísio, que consta no livro Anísio Teixeira: educador singular, de Hermano Gouveia Neto, p. 82.

“Jamais fizemos da educação o serviço fundamental da República...”
- Trecho de discurso na Assembléia Constituinte Baiana, em 1947.

“O passado é extremamente importante, mas como luz que ilumina o presente e nos ajuda a vê-lo melhor, e a evitar os erros e omissões da experiência anterior.”
- Extraído da nota explicativa do livro Educação e o mundo moderno.

“A Escola que possuímos é a escola para o tipo de civilização urbana, só aplicável ao campo na medida em que ele se urbaniza, reurbaniza, como dizem hoje, os sociólogos. Como isto, de fato acabará por se dar, em todo país, a escola deverá organizar-se tão bem quanto possível nas cidades e ir se estendendo pelo campo na sua missão de lhes transformar também gradualmente a vida...”
- Trecho de carta a Rubem Braga, [Rio de Janeiro], maio de 1957.

“Guardei de minha formação religiosa o sentimento de que viver é servir e nada mais esperar que o conforto desse possível serviço. A isto juntei sempre um agudo senso de certa insignificância pessoal, que jamais me permitiu pedir ou pleitear reconhecimento de qualquer espécie.”
- Trecho de carta a Fernando de Azevedo, Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 19..?.

“A liberdade do administrador público é muito pouca...”
- Trecho de sua fala na III Conferência Nacional de Educação, em Salvador-BA, 1967.

“Profissões se regulamentam, mas não se regulamenta a cultura. Um homem culto e um homem diplomado são duas coisas, infelizmente, bem diversas entre nós.”
- Trecho retirado de discurso proferido quando reitor interino da Universidade do Distrito Federal, em 31 de julho de 1935.

“Caro Lobato, amar a Unesco é uma coisa e casar com ela, outra. Com sete meses de vida marital, ando triste e desconsolado, nada me faz crer na Unesco de nossos sonhos.”
- Trecho de carta a Monteiro Lobato. Londres, 1947.

Anísio Teixeira, ilustração UFRJ.
“O século XX ainda não descobriu que a verdadeira revolução é a Democracia, pois ela exige e impõe a transformação integral do ser humano e das sociedades”
- Citação extraída de “Anísio Teixeira: breve retrato de uma grande vida”, de Artur da Távola.

“Sou um homem a quem a vida dá e tira com a mesma grosseria e sinto que me vou desabituando à delicadeza”.
- Trecho de carta a Abgar Renault, Rio de Janeiro, 19 de maio de 1964.

“A realidade, porém, é que nos acostumamos a viver em dois planos, o real com suas particularidades e originalidades e o oficial com seus reconhecimentos convencionais de padrões inexistentes. Continuamos a ser, com a autonomia, a nação de dupla personalidade, a oficial e a real.”
- Trecho citado na revista Educação e Sociedade, ano 20, n. 68/Especial, dez.1999, p. 81.

“No Brasil, a cultura isola, diferencia, separa. E isso por que? Porque os processos para adquiri-la são tão diversos, e os esforços para desenvolvê-la tão hostilizados e tão difíceis, que o homem culto, à medida que se cultiva, mais se desenraíza, mais se afasta do meio comum, e mais se afirma nos exclusivismos e particularismos da sua luta pessoal pelo saber.”
- Trecho de discurso pronunciado como reitor interino da Universidade do Distrito Federal, Rio de Janeiro, 31 de julho 1935.


Retirado do blog: Templo Cultural Delfos

LEONARDO BOFF


comensalidade: passagem do animal ao humano
15/10/2012
A especificidade do ser humano surgiu de forma misteriosa e de difícil reconstituição histórica. Mas há indícios de que há sete milhões de anos partir de um ancestral comum teria começado a separação lenta e progressiva entre os símios superiores e os humanos.
Etnobiólogos e arqueólogos nos acenam para um fato singular. Quando nossos antepassados antropóides saíam a recoletar frutos, sementes, caças e peixes não comiam individualmente. Tomavam os alimentos e os levavam ao grupo. E aí praticavam a comensalidade, o que significa: distribuíam os alimentos entre si  e comiam-nos comunitariamente. Esta comensalidade permitiu o salto da animalidade em direção à humanidade. Essa pequena diferença faz toda uma diferença.
O que ontem nos fez humanos, continua ainda hoje a fazer-nos de novo humanos. E se não estiver presente, nos fazemos desumanos, cruéis e sem piedade. Não é esta, lamentavelmente, a situação da humanidade atual?
Um elemento, produtor de humanidade, estreitamente ligado à comensalidade, é a culinária, vale dizer, a preparação dos alimentos. Bem escreveu Claude Lévi-Strauss, eminente antropólogo que trabalhou muitos anos no Brasil: ”o domínio da cozinha constitui uma forma de atividade humana verdadeiramente universal. Assim como não existe sociedade sem linguagem, assim também não há nenhuma sociedade que não cozinhe alguns de seus alimentos”.
Há 500 mil anos o ser humano aprendeu a fazer fogo e  a domesticá-lo. Com o fogo começou a cozinhar os alimentos. O “fogo culinário” é o que diferencia o ser humano de outros mamíferos complexos. A passagem do cru ao cozido é  considerado um dos fatores de passagem do animal ao ser humano civilizado. Com o fogo surgiu a culinária,  própria de cada povo, de cada cultura e de cada região.
Não se trata nunca de apenas  cozinhar os alimentos mas de dar-lhes sabor. As várias culinárias criam hábitos culturais, não raro vinculados, entre nós, a certas festas como o Natal (o peru), a Páscoa (ovos de chocolate), primeiro do ano (carne suina), a festa de São João (milho assado) e outras.
Nutrir-se nunca é uma mecânica biológica individual. Consumir comensalmente é comungar com os outros que conosco comem. É comungar com as energias cósmicas que subjazem aos alimentos, especialmente a fertilidade da terra, o sol, as florestas, as águas e  os ventos.
Em razão deste caráter numinoso do comer/consumir/comungar, toda comensalidade é de certa forma sacramental. Embelezamos os alimentos, porque não comemos só com a boca mas também com os olhos. O momento do comer é um dos mais esperados do dia e da noite. Há a consciência instintiva e reflexa de que sem o comer não há vida nem sobrevida, nem alegria de existir e de coexistir.
Durante milhões de anos os seres humanos eram triibutários da natureza, tiravam dela o que precisavam para sobreviver. Da apropriação dos frutos da natureza evolui-se para a sua produção  mediante a criação da agricultura que supõe a domesticação e o cultivo de sementes e plantas.
Por volta de 10 a 12 mil anos atrás ocorreu talvez a maior revolução da história humana: de nômades, os seres humanos se fizeram sedentários. Fundaram as primeiras vilas (12.000 a.C.) inventaram a agricultura (9.000 a.C.) e começaram a domesticar e a criar animais (8.500 a.C.). Criou-se um processo civilizatório extremamente complexo com sucessivas revoluções: a industrial, a nuclear, a cibernética, a da nanotecnologia,  da informação até alcançar o nosso tempo.
Primeiramente, se domesticaram vegetais e cereais selvagens, provavelmente, por mulheres mais observadoras dos ritmos da natureza. Tudo parece ter se iniciado no Oriente Médio entre os rios Tigre e Eufrates e no vale do Indus da India. Ai se domesticou o trigo, a cevada, a lentilha, a fava e a ervilha. Na América Latina foi o milho, o abacate, o tomate, a mandioca e os feijões. No Oriente foi o arroz e o milhete. Na Africa, o milho e o sorgo.
Em seguida, por volta de 8.500 a.C. se domesticaram espécies animais, a começar pelas cabras, carneiros, depois o boi e o porco. Entre os galináceos a galinha foi a primeira. Tudo foi facilitado com a invenção da roda, da enxada e do arado e outros utensílios de metal por volta de 4.000 a.C.
Estes poucos dados hoje são levantados cientificamente por arqueólogos e etnobiólogos, usando as mais modernas tecnologias do carbono radioativo, do microscópio eletrônico e da análise química de sedimentos, de cinzas, de pólens, de ossos e carvões de madeiras. Os resultados permitem reconstituir como era  a ecologia local e como se operava a utilização econômica por parte das populações humanas.
Ao plantar e colher trigo ou arroz elas podiam criar reservas, organizar a alimentação dos grupos, fazer crescer a família e assim a população. Teve que ganhar a vida com o suor do seu rosto. E o fez com furor. O avanço da  agricultura e da criação de animais fez desaparecer lentamente a décima parte de toda a vegetação selvagem e de animais Não havia ainda a preocupação com a gestão responsável do meio-ambiente. E é também difícil de imaginá-la, dada a riqueza dos recursos naturais e a capacidade de regeneração dos ecossistemas.
De todas as formas, o neolítico pôs em marcha um processo que nos alcança até os dias de hoje. A segurança alimentar e o grande banquete que a revolução agrícola poderia ter preparado para toda a humanidade, no qual todos seriam igualmente comensais, não pôde ser ainda celebrado. Mais de um bilhão de seres humanos estão ao pé da mesa, esperando alguma migalha para poderem matar a fome.
A Cúpula Mundial da Alimentação celebrada em Roma em 1996 que se propôs erradicar a fome até 2015 diz que “a seguridade alimentar existe quando todos os seres humanos têm, a todo o momento, um acesso físico e econômico a uma alimentação suficiente, sã e nutritiva, permitindo-lhes satisfazer suas necessidades energéticas e suas preferências alimentares a fim de levar uma vida sã e ativa”. Esse propósito foi assumido pelas Metas do Milênio da ONU. Lamentavelmente a própria FAO comunicou em 1998 e agora a ONU que estes propósitos não serão alcançados a menos que se supere o fosso demasiadamente grande  das desigualdades sociais.
Enquanto não dermos este salto não completamos ainda nossa humanidade. Esse é o grande desafio do século XXI, o de sermos plenamente humanos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012


O Tempo e o Vento


O maior clássico da literatura gaúcha, também entre os melhores nacionais, completa 50 anos: O Tempo e oVento.Uma das mais belas obras que já li e que  faço questão de deixar aqui registrada , aproveitando as fontes do Jornal Zero Hora: "Por qualquer ângulo de análise, O Tempo e o Vento é uma empreitada sem similares na literatura brasileira: uma saga planejada e escrita ao longo de quase três décadas, abordando por meio de sua ficção dois séculos de história, uma história não apenas do Rio Grande do Sul, sua gente e suas revoluções, como fizeram muitos dos romancistas que o seguiram, mas uma história do Rio Grande do Sul inserido no Brasil". 

Documentário Fonte:  Zero Hora

'O Continente': a parte mais popular e com os personagens mais conhecidos do conjunto criado por Erico Veríssimo

  

'O Retrato' mostra os impasses vividos pelos descendentes dos fundadores do clã Terra Cambará

 

 

A solidão dos personagens de O Arquipélago encerra com nota pessimista a saga


A figueira genealógica de "O Tempo e o Vento"

O ROMANCE DE ERICO VERISSIMO COBRE 200 ANOS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL E DO BRASIL, AMBIENTADOS NA FICTÍCIA SANTA FÉ. CONFIRA A SEGUIR , CLICANDO NA IMAGEM, QUEM SÃO E ONDE APARECEM OS TERRA CAMBARÁ, FAMÍLIA QUE SERVE DE FIO CONDUTOR DA OBRA: