"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".Rubem Alves

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

TEXTOS RUBEM ALVES


Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantadaou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.( Rubens Alves)

Rubem Alves é daqueles que despensam apresentações! Escritor, teólogo, psicanalista e educador, Rubem é um grande agente motivador para nós professores, pois seus textos maravilhosos, são diretos e clamam pelo exercício da profissão com amor, arte e paixão. E isso fica claro no texto "Pipocas e Piruás", extraído do livro "O amor que acende a lua", ideal para uma dinâmica com os próprios professores ou mesmo para uma reflexão sincera.

Por ser um clássico, obviamente muita gente já conhece, mas sempre é bom repetir aquilo que pode nos motivar ainda mais no nosso trabalho diário.( Jornal eletrônico)
.
Principais ideias
Rubem Alves defende uma educação que perpassa todo o universo humano. Ensina que o verbo educar deve ser conjugado com amor e paixão. Para ele, a sensibilidade dos educadores e educandos é desenvolvida através da literatura: "o conselho que eu daria é ler literatura. Na minha área de psicanálise é muito importante conhecer a alma humana, e o conhecimento vem não é da leitura de Freud, ela ajuda, mas na medida que buscamos a literatura, então se descobre o drama da existência humana, vivida com todas as suas dores e alegrias."
Ele afirma que é preciso ensinar os nossos alunos a enxergar o mundo. Acredita que o grande segredo é a paixão do professor, porque se ele for apaixonado pela educação, ainda que ele não saiba muita didática, dará um jeito. Logo a preocupação do educador não pode ser com o programa, deve ser com o aluno, e por isso, ele deve ter um olho para cada aluno, porque está lidando com ser humano e não com o número para exame.

A primeira tarefa do educador, portanto, é seduzir o aluno para o fascínio do seu objeto, porque se ele não for seduzido não terá vontade de aprender.



"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".
Rubem Alves

 

 ESCUTATÓRIA

Rubem Alves

 

  Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir.Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma".

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:
"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma".

Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.
(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, [...]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.).

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".

Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

Pipocas e Piruás
 Rubem Alves 

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."Assim acontece com a gente.As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de Uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que Seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder O emprego ou ficar pobre Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, Depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento Diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.Imagino que a pobre pipoca, fe chada dentro da panela, lá dentro cada vez Mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca Dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para Si.Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela A Pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo Poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela Mesma nunca havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de Pipoca que se recusa a estourar.São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a Mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito Delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não Estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida Inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão Dar alegria para ninguém

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.


Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves
 
A ALMA 

 A alma é uma coleção de belos quadros adornecidos, os seus rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado.
Acontece, entretanto, que não esxiste coisa alguma que seja do tamanho do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...
Rubens Alves. 

 A solidão amiga ( Rubens Alves)



A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!

Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.

Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.



 CONTEI MEUS ANOS



 “Contei meus anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora....
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente..............
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte.....
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência.... Minha alma tem pressa....
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana...muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade....

 A OUTRA METADE


 Quando você encontrar a outra metade da sua alma, você vai entender porque todos os outros amores deixaram você ir. Quando você encontrar a pessoa que REALMENTE merece o seu coração, você vai entender porque as coisas não funcionaram com todos os outros..
O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se 

eu fosse você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.



Rubem Alves





retirado blog:professoralourdesduarte.blogspot.com 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

26 DE NOVEMBRO DE 1807 - VIAGEM REAL


A VINDA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA PARA O BRASIL
















                            A vinda da família real portuguesa para o Brasil

Introdução
A leitura é a essência de toda a formação humana. É através dela que enriquecemos nossos conhecimentos, ampliamos nossa visão de mundo e orientamos nossas atividades. Tendo em vista a importância da leitura para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos foi desenvolvido o presente trabalho sobre a Vinda da família real para o Brasil, procurando enfocar os motivos que levaram a essa decisão e relatando as condições da viagem, que viria a ser conhecida como “A maior fuga oceânica da História e o que essa viagem representou para a formação do futuro Brasil.


Legenda: Chegada de D. João VI a Salvador/Óleo sobre tela
Cândido Portinari/ 1952/Coleção Banco BBM S/A
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para a motivação do tema foi utilizado uma imagem da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, para que dessa forma, levasse o aluno a analisar e interpretar a fonte histórica que será utilizada pois de acordo com Maria Auxiliadora Schimidt – “O primeiro passo em sala de aula é fazer o aluno saber identificar o documento que está sendo trabalhado, se é uma fonte primária ou uma fonte secundária, e como ele se apresenta: de forma escrita, oral, iconográfica, material, arqueológica, por exemplo”.

Em seguida aos questionamentos sobre as fontes históricas, passou-se a leitura de diversos documentos históricos, que narram os fatos referentes ao conteúdo, procurando avaliar seus diversos significados , pois, segundo Jacques Le Goff – “O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados, desmistificando-lhe o seu significado aparente. O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias.”

Os conteúdos e as atividades foram trabalhados partindo da desmistificação dos documentos, para possibilitar ao aluno a formação da consciência histórica procurando fazer vários recortes temporais, e usando diferentes conceitos de documentos, levando a superação da noção de História como verdade absoluta.



A CORTE PORTUGUESA NO BRASIL
Chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro em 7 de Março de 1808,
1999, Óleo sobre tela, 609 x 914 milímetros. Coleção Particular.
DESCRIÇÃO

O quadro representa, no centro, a nau Príncipe Real, onde tinham viajado a Rainha D. Maria I, o Príncipe Regente e os seus dois filhos, os infantes D. Pedro e D. Miguel, e o infante espanhol, D. Pedro Carlos de Bourbon, no momento em que acaba de fundear, usando a sua caranguejola, vendo-se o estandarte real a flutuar no mastro principal. Os pequenos botes ao redor da nau transportam personagens que não quiseram deixar de cumprimentar imediatamente a família real, já que o desembarque só se realizou no dia seguinte. Do lado esquerdo está a nau britânica Marlborough, que se encontrava na baía, a disparar uma salva, com a guarnição colocada nas vergas.

Do lado direito pode ver-se a nau Afonso de Albuquerque, que tinha transportado a princesa Carlota Joaquina e quatro das suas seis filhas, a começar a ferrar as velas preparando-se para entrar no vento e fundear. Atrás está a Medusa, que tinha transportado o ainda secretário de estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, António de Araújo de Azevedo, futuro conde da Barca, e a fragata Urânia, que escoltou o Príncipe Regente durante toda a viagem. Ao lado destas, a nau britânica Bedford, que tinha acompanhado a frota portuguesa desde as Canárias.

Mais à direita, na linha de costa o fumo branco representa a salva do forte de Villegaignon, que já não existe, vendo-se também - da esquerda para a direita - a costa de Niterói, a entrada da baía do Rio de Janeiro e o Pão de Açúcar.

INTERPRETANDO O DOCUMENTO

  1. Que tipo de fonte está sendo usada?
  2. O que esta fonte pode me informar?
  3. Até que ponto posso acreditar nessas informações?
  4. De que outros recursos necessito para complementar ou confirmar o que está sendo apresentado?


SITUAÇÃO DA EUROPA NO MOMENTO DA PARTIDA

Embarque do Príncipe Regente D. João VI para o Brasil : 1808

Embarque de Dom João VI para o Brasil no dia 27 de Novembro de 1807, foto de Mário Novais, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - A10830






Nos primeiros anos dos séculos XIX grande parte da Europa estava sob o domínio de Napoleão Bonaparte, que se tornara imperador francês em 1804. O único obstáculo à consolidação de seu Império na Europa era a Inglaterra, que, favorecida por sua posição insular, por seu poderio econômico e por sua supremacia naval, não conseguiria conquistar. Para tentar dominá-la, Napoleão usou a estratégia do Bloqueio Continental, ou seja, decretou o fechamento dos portos de todos os países europeus ao comércio inglês. Pretendia, dessa forma, enfraquecer a economia inglesa.
Outro grande problema para os planos expansionistas de Napoleão era a posição dúbia do Governo de Portugal, que relutava em aderir ao Bloqueio Continental devido à sua aliança com a Inglaterra, da qual era extremamente dependente. O príncipe D. João, que assumira a regência em 1792, devido ao enlouquecimento de sua mãe, a rainha D. Maria I, estava indeciso quanto à alternativa mais menos danosa para a Monarquia Portuguesa, porém a decisão foi tomada e é o que veremos a seguir.

CONVERSANDO E APRENDENDO
O Bloqueio Continental foi uma estratégia da política externa napoleônica para derrotar um adversário. Você conhece algum país do mundo que adota este mesmo tipo de estratégia, na atualidade?


OS MOTIVOS DA VIAGEM
Desde o final do século XVIII, alguns letrados do Império Português retomavam a idéia, esboçada no século anterior, de mudança da sede da Coroa para a América. Devido à importância econômica das colônias americanas e à insegurança reinante na Europa, eles defendiam uma profunda reforma na estrutura política do império, que culminaria com esse deslocamento geográfico do poder monárquico. Essa teoria porém não é a mais difundida entre os historiadores, a partida da Família Real para o Brasil é narrada por muitos como tendo sido uma fuga súbita e atropelada, mas os acontecimentos narrados a seguir demonstram o contrário e defendem a teoria da fuga planejada.

Ao chegar ao Brasil , a corte portuguesa desembarcou com todo o acervo da Biblioteca Real – origem da atual Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro – devidamente embalado e catalogado, o mesmo acontecendo com obras de arte e documentos do arquivo real. Numa fuga decidida às pressas, ninguém pensaria em cuidar do acervo cultural e artístico com tanto esmero e tantas atenções técnicas. Não foi, portanto, um salve-se quem puder, mas uma alternativa longamente planificada e preparada.

Mesmo assim, os fatos parecem ter-se precipitado, criando, nos últimos dias da permanência da corte em Lisboa, um clima de forte agitação e correria. O embarque da família real é ordenado por D. João VI para o dia 27 de novembro de 1807, pela manhã. Naquele dia, sob os olhares apreensivos da gente comum, nobres desembarcam nos escalares que os levariam aos navios. A frota deveria partir na manhã do dia 28, mas o mau tempo retém os navios no porto por mais 24 horas, enquanto as tropas francesas se aproximavam perigosamente da cidade. Na manhã do dia 29, enfim, “ao nascer do dia”, põem-se em movimento as oito naus de linha, as quatro fragatas e quatro embarcações menores, que levavam a corte e mais uns quarenta navios mercantes, onde viajava a elite econômica e social de Portugal. No total, mais de 15 mil pessoas, numa das maiores fugas oceânicas de que se tem notícia, partiram para o Brasil com todos os tesouros do reino, deixando nos cofres públicos apenas os títulos de dívidas.

A fuga mudaria a história do Brasil. A Colônia, promovida de um momento para o outro na capital de um império ultramarino, jamais seria a mesma.
A ARMADA

A armada que levou a Corte para o Brasil incluía vários tipos de navios: naus, brigues, fragatas, escunas, bergantins e corvetas. Alguns eram enormes, bem armados de canhões, capazes de transportar muitos passageiros e grandes quantidades de carga.
Outros eram mais pequenos e mais velozes. Além dos navios ao serviço da Corte, foram para o Brasil mais quarenta alugados por particulares que se meteram ao caminho à sua própria custa. Uma esquadrilha de quatro navios ingleses acompanhou a armada para dar apoio em caso de ataque no mar alto. O comandante da armada era Manuel da Cunha Sotomaior. Para se ter noção da grandiosidade da viagem, veja a seguir a descrição das naus que trouxeram a família real portuguesa para o Brasil.
_Naus:
* Rainha de Portugal (74 canhões)
Nesta nau viajou D. Carlota Joaquina com alguns dos filhos mais novos.

*D. João de Castro (64 canhões)
Nesta nau viajou o Duque do Cadaval, o Conde de Belmonte e o Conde de Redondo.

*Príncipe Real (80 canhões)
Nesta nau viajou a rainha D. Maria I, o Príncipe Regente e o filho mais velho, D. Pedro.

*Princesa do Brasil (74 canhões)
Nesta nau viajaram as irmãs da rainha e duas princesinhas.

*Conde D. Henrique (74 canhões), Martim de Freitas (64 canhões), Afonso de Albuquerque (64 canhões)

*Fragatas: Medusa (74 canhões) - Minerva (44 canhões) - Jutra (32 canhões )- Golfinho (36 canhões)
*Brigues: Voador (22 canhões) - Vingança (20 canhões)

*Escunas: a Curiosa e Bergantins o Três Corações


PREPARATIVOS NO RIO DE JANEIRO

No Brasil o representante do rei de Portugal tinha o título de vice-rei. Na época o vice-rei era o Conde dos Arcos, que deu voltas à cabeça para organizar uma recepção devidamente animada e elegante e para preparar alojamentos onde instalar tanta gente. Em 1808 viviam na cidade do Rio de Janeiro cerca de 60.000 pessoas. Chegarem mais 15.000 de um dia para o outro era uma espécie de avalanche, uma "avalanche humana". Mas o Conde de Arcos não se atrapalhava com facilidade. Começou por despejar o Palácio dos vice-reis(1) e mandou limpar tudo muito bem para poder funcionar como residência real. Como este Palácio não tinha capela e ele sabia que as pessoas da Corte estavam habituadas a capela privativa, chamou carpinteiros e ordenou-lhes que construíssem rapidamente uma ponte de madeira ligando diretamente o Palácio à Igreja do Carmo, que ficava ao lado.
Quanto a estas medidas, todos concordavam, pois eram prédios públicos. Mas, como ele requisitou algumas habitações particulares para alojar gente da Corte, houve proprietários que ficaram revoltados com o abuso. No entanto, a maioria da população estava delirante. Nunca uma família real europeia pisara terras da América do Sul. Receber reis, rainhas, príncipes e princesas fazia as pessoas sentirem-se como personagens de contos de fadas. E a alegria natural dos habitantes do Brasil transformou logo os preparativos em grande festa.

Consta que D. João sorria e acenava feliz por se ver tão acarinhado. E que D. Carlota Joaquina chorava, talvez de comoção. Ninguém reparou especialmente nas reações do pequeno príncipe D. Pedro. Com nove anos, perante um ambiente colorido, barulhento, festivo, só podia estar maravilhado. Não podia era adivinhar que o destino tinha planos para entrelaçar a sua vida com o futuro daquela terra e daquela gente…


UMA ENTRADA TRIUNFAL

A armada reunira-se de novo e ancorara em frente ao Pão de Açúcar. Impossível descrever a euforia a bordo e em terra. Toda a gente ansiava pelo momento em que os canhões dariam sinal de desembarque. E isso aconteceu pelas quatro horas da tarde do dia 4 de Março de 1808. Ao primeiro "Boum", D. João desceu para um bergantim seguido da mulher e dos filhos. Enquanto os remadores faziam avançar a embarcação para o cais, os canhões atroaram os ares com salvas de boas vindas, repicaram em simultâneo os sinos de todas as igrejas, estalaram foguetes, bandas de música puseram-se a tocar, as pessoas davam vivas no maior entusiasmo. Guardas de honra formavam alas desde o cais à Igreja do Rosário onde estava tudo preparado para uma cerimônia religiosa destinada a dar graças a Deus pelo sucesso da viagem.D. João, D. Carlota Joaquina e os principezinhos seguiram em cortejo pelas ruas atapetadas de folhagens. As janelas das casas em redor tinham sido enfeitadas com grinaldas de flores, colchas de seda encarnadas e azuis. E as famílias vestidas com as melhores roupas e ostentando as melhores jóias debruçavam-se nas janelas a aplaudir.

RESIDÊNCIAS REAIS

Quinta da Boa Vista_ Rio de Janeiro


The National Museum of Quinta da Boa Vista, São Cristóvão. In the palace born Dom Pedro II and P

A família real, além do Palácio dos vice-reis que pertencia à coroa e foi posto à sua disposição, recebeu de presente uma quinta magnífica - A Quinta da Boa Vista em S. Cristóvão -, oferecida por um colono rico e amável. Essa quinta tornou-se a residência preferida de todos. Atualmente o Palácio de S. Cristóvão é o Museu de História Natural e Etnologia. A Quinta é um parque onde há plantas de todo o mundo.
D. JOÃO VI NO RIO DE JANEIRO

Com a chegada de D. João VI, o Rio de Janeiro entrou em ebulição. Várias transformações marcaram o cenário político-social da cidade: o Decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas transformou o porto do Rio num importante centro financeiro-comercial; o crescimento populacional foi outro fator marcante, devido ao grande número de nobres e funcionários da corte portuguesa que formavam a comitiva do rei; a criação do Banco do Brasil e de novas instituições administrativas, trazendo para o Rio de Janeiro os ares da metrópole. Os hábitos culturais se modificaram, pois fazia-se necessário satisfazer a demanda de uma aristocracia que valorizava a cultura européia.

D. João VI encontrou uma cidade pobre, sem planejamento urbano e saneamento básico, com ruas estreitas, sujas e apinhadas de escravos, ambulantes e "bugres", escravos responsáveis pelo despejo de dejetos na baía. O Paço Imperial, residência oficial do Vice-Rei, possuía uma arquitetura pobre, sem adornos, ainda no estilo colonial "porta e janela", sem mobiliário adequado para receber um monarca e, sobretudo, muito pequeno para abrigar a comitiva rea. Outras residências serviram de abrigo para a corte: o Convento das Carmelitas, onde ficou D. Maria I; a Casa do Trem (atual Museu Histórico Nacional); o prédio da Cadeia, vizinho do Paço, que virou residência de aristocratas. Não satisfeito, D. João decretou que as melhores casas da cidade fossem cedidas para os nobres que ainda não tinham moradia. Cada casa escolhida pelos oficiais do rei deveria ser desocupada imediatamente, sendo a porta carimbada com as iniciais P.R. (Príncipe Regente), que, no humor nativo, logo se transformou em "Ponha-se na Rua".

Durante os treze anos de sua estadia no Brasil o regente português criou várias instituições culturais, como a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico, o Real Gabinete Português de Leitura, o Teatro São João (atual Teatro João Caetano), a Gazeta do Rio de Janeiro (sob censura régia), a Imprensa Nacional, o Museu Nacional, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Outras medidas que deram grande impulso à cultura foram a reorganização da Capela Real e a vinda da Missão Artística Francesa (1816), que trouxe ao Brasil nomes como Joachim Lebreton (pintor), Nicolay Antoine Taunay (pintor), Auguste Marie Taunay (escultor), Jean-Baptiste Debret (pintor), Augusto Henrique Vitório Grandjean de Montigny (arquiteto), Sigismund Neukomm (compositor, organista e mestre-de-capela).
A vinda da família real portuguesa para o Brasil foi decisiva para a consolidação do país como nação independente, pois após o retorno da corte para Portugal a colônia agora já contava com uma estrutura de capital e com um principe regente, D. Pedro I, que anos mais tarde Proclamaria a Independência do Brasil.

    ORGANIZANDO O CONHECIMENTO

1) Que evidências históricas são utilizadas para justificar a fuga da Família Real para o Brasil como tendo sido planejada?
2) Explique as conseqüências das guerras napoleônicas em relação a Portugal e Brasil.


QUEM VIVEU CONTA A HISTÓRIA
* Faça uma pesquisa de imagens sobre o Brasil, feitas por artistas estrangeiros como Debret, Thomas Ender, Taunay, August Earle, Rugendas, Martius e Spix. Anote suas conclusões a respeito da sociedade e da paisagem brasileira no início do século XIX.

PARA SABER MAIS
*Leituras
TUFANO, Douglas. Jean-Baptiste Debret. São Paulo:Moderna, 2000. Livro com farta iconografia de Debret, destacando a biografia do artista. Escrito em linguagem simples e acessível, voltada principalmente para o público infantil.

JAF, Ivan. A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro. São Paulo: Ática, 2001. (Col. História do Brasil através dos Viajantes). Adaptação do relato de John Luccock, um comerciante inglês que chegou ao Rio de Janeiro no período joanino.

* Filme
Carlota Joaquina, princesa do Brasil. Direção: Carla Camurati. Brasil, 1995, 100 min. De maneira bem-humorada, o filme conta a vinda de D. João e sua esposa Carlota Joaquina para o Rio de Janeiro, onde permaneceram por treze anos.

*Site
Um francês na corte do Brasil
www.estadao.com.br/ext/debret/catalogo.htm
O endereço acima, leva a um interessante catálogo virtual de imagens produzidas por Debret durante a permanência da família real portuguesa no Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRAICK, Patrícia R, e MOTA, Myriam B.
História das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2006

MELLO, Leonel Itaussu de A. e COSTA, Luís César Amad. História – Construindo Consciências. São Paulo: Editora Scipione, 2007.

Paraná Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba SEED, 2006

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. As fontes históricas e o ensino da História. São Paulo: Scipione, 2004

LEGOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Editora da UNICAMP, 2003

SITES VISITADOS
http://www.arquenet.pt/portal/imagemsemanal/novembro0203.html
http://www.contelar.com.br/revista/edicao44/fuga1.htm.
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/vinda_da_familia_real

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A AFRICANIDADE DE CARYBÉ




Carybé (Hector Julio Páride Bernabó) - A arte e a paixão pela Bahia

Hector Julio Páride Bernabó - conhecido por CARYBÉ.
(1911 Lanus-Argentina - 1997 Salvador-Bahia).
Internacionalmente conhecido como Carybé, o pintor, ilustrador, desenhista, ceramista, escultor, pesquisador, historiador e jornalista Hector Julio Paride Bernabó é um dos principais artistas plásticos do século 20. Depois de morar em Gênova, Roma, Rio de Janeiro e em cidades de outros países, mudou-se em 1950 definitivamente para Salvador, onde ficou até sua morte, durante uma cerimônia no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, em 1° de outubro de 1997.
Carybé.
Nasceu a 7 de fevereiro de 1911, num dia de chuva miúda e tão perto da meia-noite que não se sabe ao certo se nasci no dia que nasci ou no anterior”. Nasceu em Lanus, “espécie de subúrbio de Buenos Aires que tem o Riachuelo no meio: aquele mesmo rio da famosa batalha separa Buenos Aires de Lanus, dormitório de pistoleiros e guardacostas de políticos."
Pai cigano, não de galera e bastão, de alma, andou pela Argentina, Venezuela, Itália, Brasil. Carybé tinha seis meses quando a família foi para a Itália, onde ficaram nove anos. Em 1920 passaram a viver no Rio, em Bonsucesso. “Como estudante sempre fui ruim e tomei carinho às arvores, campinas, às praias, ao sol e à vagabundagem.” Quando ele completou 19 anos, retornaram à Argentina para ficar. Fala as três línguas de infância sem sotaque.
Aprendeu a desenhar em casa, vendo os irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto que eram desenhistas, pintavam, esculpiam e trabalhavam em publicidade. Aos 21 anos Carybé começou a desenhar. Fazia cartuns, charges, ilustrações e escrevia - texto conciso, exato e bem humorado - tendo colaborado com diversos jornais e revistas de Buenos Aires e do Rio. “No inicio tinha um desenho comum, sem nada de especial. Como acho que todo mundo faz no começo de carreira, tive influência de outro artista: fiz desenho à moda de Grosz (famoso artista gráfico alemão radicado em Buenos Aires, dono de um desenho cáustico e irônico), que mudou-se para Nova York e foi absorvido pela ‘jungle’, nunca mais fez nada. Comi e digeri Grosz. Dele saí eu, como, não sei." Mas olhando um desenho de Carybé daquela época e comparando-o ao de Grosz, vemos que o único ponto em comum é o olho para o detalhe. Naqueles primeiros desenhos já se percebia a marca pessoal do seu estilo.
De cartunista resolveu passar às tintas e pincéis e em 1936 fez sua primeira exposição. Senhor de muitas andanças e vivências, fez de quase tudo, foi inclusive estivador e pandeirista no grupo que acompanhava Carmem Miranda, fato que seu amigo e colega Mirabeau Sampaio sempre pôs em dúvida.
Em 1938, é enviado a Salvador pelo jornal “Prégon” quando declarou: “me deram o melhor emprego do mundo – viajar e mandar desenhos. Mas quando cheguei a Salvador, o diário tinha falido”, acaba ficando desempregado e faz uma viagem por todo o litoral norte do Brasil. Nesta época começou a registrar a cultura local através de sua arte: a capoeira, o candomblé. Voltou para Buenos Aires e em 1939, fez sua primeira exposição coletiva, com o artista Clemente Moreau, no Museu Municipal de Belas Artes de Buenos Aires. No início dos anos 40 viajou pela América Latina, e passou alguns anos em Buenos Aires, onde trabalhou em jornais, como ilustrador de livros e traduziu o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943 fez sua primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la Tierra Verde", de Bernardo Kordan.
No Rio de Janeiro, ajuda a fundar o jornal Diário Carioca, em 1946. Em 1949 é convidado por Carlos Lacerda a trabalhar em seu jornal, a Tribuna da Imprensa, onde fica até 1950.
Roda de Samba, de Carybé.
Convidado pelo Secretário da Educação Anísio Teixeira, Carybé muda-se definitivamente para a Bahia, onde batalha pela renovação das artes plásticas, ao lado de outros artistas, como Mário Cravo Júnior, Genaro de Carvalho e Jenner Augusto.
Em 1957 naturalizou-se brasileiro, e é considerado um ícone de “baianidade”. Entre seus diversos amigos estava o escritor Jorge Amado, que escreveu O Capeta Carybé, onde define o amigo como alguém que “é todo feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições, e ao mesmo tempo é a própria simplicidade (...)”.
A arte de Carybé foi por vezes um expressionismo marcante, com um sentimento carregado em cores escuras. Mas o que marcou presença foi o retrato de um povo, sua religião e seus costumes, passados por vezes de maneira surreal. Ao retratar o povo, Carybé não estava fazendo uma pintura de cunho social, não acreditava neste poder da arte. O que ele queria, e conseguiu, era passar para a tela seu testemunho de uma cultura rica em detalhes, e da qual ele fez questão de se aproximar.
Há uma história curiosa por trás do nome pelo qual o argentino Hector passou a ser conhecido. O artista pensava que seu apelido era derivado do nome de um pássaro pertencente à fauna brasileira e foi o amigo Rubem Braga quem esclareceu o mal entendido: Carybé é o nome de um mingau dado às mulheres que acabaram de parir. Com bom humor ele apenas disse: “que bom, eu adoro mingau.”
Carybé fez diversas ilustrações de livros para diversos autores da literatura, entre eles, Jorge Amado, Rubem Braga, Mário de Andrade e Gabriel García Marquez, além de ilustrar livros de sua autoria e co-autoria, como Olha o Boi e Bahia, Boa Terra Bahia, com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publica a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia.
Carybé morreu em 1997, na cidade de Salvador.

"O feitiço da Bahia começa pela cozinha. Você só se alimenta de comidas sagradas."
- Carybé, em entrevista a Clarice Lispector.
Capoeira na praia, de Carybé.
"exemplo notável em sua arte, que recria a realidade do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como ninguém." 
- Jorge Amado.

Cotidiano, de Carybé.

"São aguadeiros, lavadeiras com trouxas, homens
e mulheres com balaios e tabuleiros, flores, cestos, latas
d'água, tijolos, frutas, animais, moringas, madeira, caixas
e caixotes, barris, até caixões de defunto. Aqui, tudo
nessa vida se carrega na cabeça!"
- Carybé.


Carybé e Nancy.
"Ele sempre estava dizendo aos quatro ventos que era 'barriga de pobre', portanto gostava de tudo. Tudo, menos jenipapo. Do licor, então, nem se fala...tinha verdadeiro horror."
- Nancy, companheira de vida.

Baianas, Carybé.
DEVOÇÃO A RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA
"sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos, que hoje se defrontam com estes deuses contemporâneos, terríveis e vorazes, que são a tecnologia e a ciência."

Mãe Senhora [Maria Bibiana do Espirito Santo] e Carybé.

Iansan, de Carybé.

CARYBÉ, PIERRE VERGER E CAYMMI
Ilustrações do livro Carybé, Verger e Caymmi - Mar da Bahia.

Ilustrações do livro Carybé e Verger - Gente da Bahia.

Ilustrações do livro Carybé e Verger - Gente da Bahia.

Carybé, pintando o painel no Memorial da América Latina em São Paulo,
produzido na década de 1980. Foto: Acervo da família.
fonte:www.elfikurten.com.br